Monday, January 27, 2014

janeiro de 2034, Lisboa

1. Habitação. O governo português instaura um novíssimo programa de realojamento para resolver todos os problemas de habitação. A ideia é demolir todas as casas construídas informalmente no período da grande crise económica 2008-2028, mais conhecida como Mega Depressão. Os cientistas sociais advertem contra este programa, dizendo que há 40 anos foi instaurado um programa semelhante que em vez de integrar, segregou mais as populações visadas. E dizem que a história da habitação refere que já nessa altura um programa de realojamento em habitação social estava obsoleto a nível internacional, pelo que o dinheiro investido seria, e foi, mal gasto. O governo contra-argumenta que algo tem de se fazer, e se o que está disponível é a possibilidade de se fazer realojamentos em habitação social, é o que será feito.
2. Saúde. O governo português, após 15 anos de lei proibitiva do aborto, reconhece que a lei de 2008, que dava a possibilidade de abortar até às 10 semanas de gestação, era uma lei com grande aceitação e garantia os direitos das mulheres, bem como contribuía para uma melhor saúde da mulher fértil. Nos últimos anos, verificaram-se, por um lado, não só mais mortes decorrentes de abortos ilegais, como uma decadência no acesso à saúde.
3. Educação. O governo português volta a colocar como leitura obrigatória Os Maias de Eça de Queirós. Não há mais leituras obrigatórias. Os alunos de resto terão de ler 5 obras entre as 25 escolhidas. Este método é semelhante a algo que aconteceu há 20 anos atrás, mas como não houve estudos na área da educação cruzados com estudos de literatura na área da promoção da leitura, voltamos a experimentar o mesmo.
4. Alimentação. O governo português adverte que o azeite produzido em Portugal não está apto para o consumo alimentar e deve ser apenas empregue no uso industrial e automóvel. O uso excessivo dos solos provocado pelas oliveiras anãs e pela apanha mecanizada conduziram a um empobrecimento drástico dos nutrientes do azeite. Os portugueses deverão por isso procurar, por exemplo, o azeite produzido em Espanha, onde essa prática foi abandonada há 15 anos após a crise do azeite espanhola.