Wednesday, April 29, 2009

comboio para sul

estou entre paisagens antagónicas a andar de comboio. a leste, tenho bairros sociais recentes mas degradados, esqueceram-se das infraestruturas como quem diz que se esqueceram das pessoas que iam para lá morar. a oeste tenho paisagens novinhas em folha, fresquinhas como são os jornais e o pão. como podem duas paisagens a partir do mesmo comboio ser tão díspares? escolho sentar-me na janela das paisagens velhas-novas já que há muitos lugares livres, mas vou ter de ir alternando os lugares de um lado e do outro. não se pode deixar de ver tudo, por isso fecho os olhos por um momento. as paisagens dentro dos olhos são definitivamente antigas, estão na parte de trás da cabeça, acalmam-me e acentuam sentimentos à vez. levanto-me para ir ao fim da carruagem olhar para norte (sempre gostei de saber onde estavam os pontos cardeais), mas fico tonta com as direcções. sento-me no degrau em direcção a leste e ouço melhor os carris. há uma vertigem apenas suficiente para sentir a adrenalina da possibilidade de saltar. volto para dentro de olhos abertos.

Monday, April 27, 2009

a seagull in the country

a seagull went inside the country
she ought to see the countryside
alone a guy saw her
she was talking about her journey
i saw barley and corn plains
saw the highway and the cities between it
from the sky
i saw things
and thought i was luckyto fly
he said i've been there
but my journey
tought me things from the floor
from the asphalt jungle
i saw plains and mountains
but what i loved the most was the river
that i knew
it could take me back to the sea

Sunday, April 26, 2009

bill callahan

estou viciada neste gajo e este video é giro, com todos os sentidos pari passum

Saturday, April 18, 2009

olhar para alguém num concerto

mais cedo ou mais tarde, a adolescência é não ter medo. isto aprendi no outro dia numa exposição, nos comentários excessivos de um poeta. dia a seguir, concerto no bairro, olhar para alguém impossível foi como uma bênção platónica no quotidiano. com o cuidado de não cruzar o olhar, foi bom seguir um perfil forte para meu deleite, quase voyeurismo. as pessoas irreais, aliás, vão-se cruzando neste presente de redes sociais náuticas ou aluadas, sempre pouco terrestres, entretendo os corações pouco abraçados. se momentos assim trazem alegrias, ainda que fugazes (shame on me for an excessive use of adjectives), porque não? ah, claro, com o cuidado de não mergulhar excessivamente na ilusão, há antes que ver tudo isto como um mergulho daqueles para a piscina, em que a seguir se começa a nadar. de qualquer maneira, abrir os olhos debaixo de água é magnífico. são só linhas mas parecem estradas, rios, céu, mar.