Monday, April 21, 2008

os escoteiros vão logo à braguilha

sexta-feira, restaurante cheio. bife à pimenta quase no fim. ainda bem que já tinha comido.
silêncio por um segundo. rapariga a dizer baixinho ai meu deus ai meu deus. está tudo virado para o meio do restaurante. está um tipo no chão, a sagrar do ouvido. caira sem amparo, do nada. está tudo a olhar. eu vai, meio segundo para apelar ao sangue frio, e viro-o de lado e depois desaperto-o. entretanto ele acorda e vai logo à braguilha, fechando-a e olhando para mim como quem diz o que é que estás a fazer. paciência para o que ele pensou. ele lá se levantou. a namorada chamou o inem a chorar. o empregado do restaurante limpou o sangue do chão a imitar calçada portuguesa. a ambulância chegou mais de meia hora depois. o grupo onde estava o tipo que caiu não jantou, ficou-se pelo pão e pelo paio. eu e amigos descemos a bica. eles diziam, pois pois, escoteira e tal, foste logo à braguilha, o rapaz até acordou logo.

Friday, April 18, 2008

Derby

às oito e dez da noite na quarta feira, cheguei à paragem de autocarro para esperar pelo 26 (sem guarda-chuva). às oito e vinte chegou o 16 e depois o 56, e depois o 16 e depois o 56, e depois dois autocarros "reservados". e depois o 16. eu queria o 26; lutando contra o pessimismo, esperei. às oito e quarenta comecei a vociferar todas as asneiras possíveis, passando por louca. às oito e cinquenta desisti. comecei a andar, sob a chuva, até à caixa multibanco. levantei dinheiro sempre a vociferar. a senhora que lá estava pareceu compreender. disse, esta chuva já não faz bem a ninguém. continuei a pé, já com dinheiro para o taxi, mas de taxi nem vê-los. andei desde a avenida de berna até à praça de londres, sob chuva, vociferando, compreendida pelos homeless, algo surpreendidos. apanhei o taxi vindo de um serviço, de certeza. quando entrei percebi logo porque é que a cidade deixara de funcionar - não foi pela chuva. o senhor do relato vociferava os passos dos milionários na "grama" molhada. o sporting perdia dois a zero. vai daí, já em casa, o sporting marca um, e outro, e outro, e outro, e outro. bem feita para o motorista (de certeza que era!) benfiquista do 26.

Wednesday, April 02, 2008

Não se faz isso

Ia muito bem no metro, hora de ponta, encostada à porta, quando reparo num cego e respectivo cão, daqueles lindos. Vai eu e pimba, festinha cão. E uma senhora, que quase me bateu na pecadora mão vai e diz, "não se faz isso. é um cão de trabalho". o cego, esse, não disse nada. e eu, ok, obrigada (pela lição). o cego saiu em roma, e de roma a alvalade a senhora explicou, é um cão de trabalho, são muito bonitos, mas não se pode, porque se muita gente o fizer, eles distraem-se do seu trabalho. ok, obrigada, sabia que era um cão de trabalho, mas não sabia que não se podia dar festas.
fez-me sentir como uma criança de cinco anos, repreendida por estranhos pela primeira vez, e como dormi pouco fiquei um vidrinho com a situação. quis dizer, em voz de birra mais o beicinho respectivo, que também quero um cão, ou um gato, para fazer festinhas, um pet de trabalho em minha casa, para ser bem alimentado e que, em retorno, se deixa afagar.