Monday, March 31, 2008

xana, és linda. é hoje que sai o 8 dos rádio macau

... a lua está longe e mesmo assim
dançar podemos sempre se quiseres...

Wednesday, March 26, 2008

investigadores que impedem outros de investigar

fui procurar um documento num centro de documentação. não estava disponível. a funcionária ligou ao último requisitante, que tinha levado o documento na altura do natal. o requisitante retorquiu que ainda precisava do documento. a funcionária disse, mas outras pessoas também precisam. venha devolver o dito cujo e, uma semana depois, quando a pessoa que precisa do documento o devolver a horas (ao contrário de si, seu parvalhão), pode voltar a requisitá-los. e ele, então mas não me pode dar mais uma semaninha agora? (agora é tarde, já teve três meses para ler!), não senhor, não pode, porque nunca chegou a justificar porque reteve em casa tanto tempo o documento. eu acenava, contente com a funcionária, e acenava de novo, confirmando que devolveria o documento uma semana depois.
na biblioteca do iscte agora pagam-se multas por cada dia de atraso. a repressão é lixada. a funcionária deste centro não quer chegar aí, e por isso ralha aos faltosos, que vão retorquindo pedidinhos e favorzinhos.

Monday, March 24, 2008

joão manuel serra, o senhor do adeus


Tudo isto é solidão? (perguntou-lhe a jornalista Ana Sofia Fonseca)

"Essa senhora é uma malvada, que me persegue por entre as paredes vazias da casa. Para lhe escapar, venho para aqui. Acenar é a minha forma de comunicar, de sentir gente."


a imagem é de um blog que se chamava culto da ostra

Saturday, March 22, 2008

Rui Marques, o salvador da pátria

O Rui Marques foi meu patrão e não é mau patrão. Ele tem a candura das pessoas "boas", e depois é muito clean, diz coisas acertadas com a época, sabe o que faz. Anima os demais colegas a trabalhar em causas, privilegia os valores ausentes, não alinha em conversas passadistas.
Agora o Rui Marques está a juntar forças para fazer um partido, um bocadinho apartidário, um bocadinho ao centro mas contra o centrão, um bocadinho católico e um bocadinho revolutionary friendly.
É provável que o Rui Marques seja o que o tuga médio (passo o deslize arrogante) deseja para animar o país. É provável que ele ganhe muitos votos. É provável - temamos - que seja ele o D. Sebastião, o salvador da pátria como "todos gostamos". É só esse o problema. De resto, o Rui Marques não faria mal a uma mosca.
O Rui Marques, para todos os efeitos, vai ser um teste à memória do tuga médio (passo de novo o deslize arrogante). Será que alinha logo de xofre, ou será que pára para pensar que isto dos heróis é melhor desconfiar?

Thursday, March 20, 2008

manhã ventosa

saí de casa de manhãzinha, sem vontade nenhuma. mas porque é que não se respeitam as "vontades nenhumas"??
apesar de tudo, contente. ia fazer o passaporte electrónico, disseram-me que era necessário para is aos states (onde espero ir em breve). lá fui ao governo civil. afinal não era preciso. porque o meu passaporte tem "leitura óptica". óptimo, gastam-se menos 60 euros (podia era ter ficado a dormir mais uma horinha, ou a trabalhar). next.

buscar o resultado da ecografia na super eficiente CREAR, muito conhecida em Lisboa, fazem-se lá muitas análises. estaria pronto hoje. afinal não. está tudo atrasado 48 horas.
"então e porque não avisaram, para que serve o número de telefone que vos damos?"
sem resposta.
"quero escrever uma reclamação" (para não desatar aos berros).
se puder vir cá a seguir ao almoço, disse a senhora, talvez já esteja pronta.
"talvez?!", tentando - sem efeito - não elevar a voz. A senhora telefona não sei a quem. Depois:
sim, se puder vir, disse a senhora, pode levantar a ecografia às14:30h. E lá saí eu, beneficiada por ter reclamado o meu direito. next

na rua, a andar, vou falando sozinha. vociferando contra a CREAR. aproxima-se uma senhora que também vocifera. sentiu-se acompanhada, talvez. Ela pensava alto contra a ventania, e disse(-me) junto à passadeira: Vem lá da Espanha [o vento]; morreu pr'aí algum galego ou quê? Eu sorri. next.

sentei-me no metro e confirmei que realmente tinha morrido um galego, no livro que estou a ler (A Morte do Decano, do Ballester). ao menos que haja um evento destes num dia ventoso em que as actividades escolhidas nos saem todas falhadas... next.

ISCTE. Tenho coisas para devolver, até hoje, num centro de documentação. Fechado. na faculdade evito pensar alto. controlei-me. next.

ginástica. Finalmente algo para relaxar. Yoga. Mas não, afinal. Período de férias, explicou-me a funcionária, depois de me ter deixado entrar, vestir o equipamento, bater com o nariz na porta da sala. next.

a paragem de autocarro tem um mostrador com o tempo de espera há 6 meses, mas nunca chegou a funcionar. Vocifero. Para que serve aquela porcaria? não sei se tenho tempo para ir à padaria afogar as mágoas num pão com chouriço ou não. Arrisco ir à padaria. Fila. E não há pão com chouriço quando chega a minha vez. What else?

apanho o autocarro pretendido séculos depois, e engano-me na paragem, distraída com a manhã ventosa, a acabar. Já em casa, onde estou, o meu teclado é um saco de boxe. já não vou buscar exame nenhum às 14:30h.

Tuesday, March 18, 2008

shatush


este é o blog da minha tia ana,
que faz uns caxecois e luvas
e abat-jours e colares, e outras coisas,
tudo lindo

Monday, March 17, 2008

engraçado, o meu pai também me disse uma coisa parecida

"(...) Todos os grandes compositores estão a dizer-nos com os seus acordes e melodias - e até nos silêncios entre as notas - que a vida é longa, mas não tão longa como nós julgamos ao princípio. E que também vai ser muito mais dura do que alguma vez imaginámos; por isso, devemos criar toda a beleza de que formos capazes enquanto cá estivermos e ajudar todas as pessoas a quem amamos a fazer a mesma coisa. Também devemos ouvir-nos uns aos outros da mesma forma como os ouvimos a eles - e isso é muito, muito importante. E devemos ter a coragem de lutar contra tudo que comprometa a nossa própria beleza ou que, de alfguma maneira, a possa prejudicar. Todos os compositores verdadeiramente grandes estão a preparar-nos para vivermos correctamente e a dar-nos coragem para seguirmos com as nossas vidas o melhor que pudermos, mesmo que tenhamos cometido os erros mais imperdoáveis (...)"
Do Meia-noite ou o princípio do mundo (p.533), do Zimler
(fim de ciclo)

Att:
1) beleza, leia-se arte ou criatividade
2) grandes compositores - incluam-se os actuais

Friday, March 14, 2008

não esquecer

comparar infelicidades é um exercício inútil

Wednesday, March 12, 2008

(e é outras coisas também)

mas a luísa não vai, porque uma cidade é uma cidade. não é um coração à espera. quando muito, uma cidade é um coração que (des)espera.

Tuesday, March 11, 2008

carta para a luisa (ficção sobre o que eu gostava que fosse)


luísa,

não hesites. viaja até à terra para onde ele fugiu quando achou que era agora ou nunca. vai lá, diz-lhe poucas e boas, desta vez cara a cara. diz-lhe como deixarias tudo para estares com ele de novo; não tenhas medo - ele é que vai ter medo. mas dá-lhe as cartas todas, desta vez em mão.

vai, e quando ele abrir a porta beija-o na boca e deixa-o de rastos. não te importes com os "casos" dele, isso não é nada comparado com a espera que ele tem aguentado. é isso que ele espera de ti. e tu, o que esperas? vai e fá-lo perceber o que perdeu ele este tempo todo. os teus olhos, sobretudo, foi o que ele perdeu. porque se ele visse os teus olhos quando falas dele, podia perceber que a língua em que ele fala agora não tem palavras suficientes para explicar o que é difícil.

(roubei a imagem do google, claro)

Monday, March 10, 2008

www.phdcomics.com*

*graças à ana claudia, que me indicou este site, posso rir-me de mim mais vezes. não que eu perceba esta equação, longe de mim, mas para a imagem ainda lá chego

Friday, March 07, 2008

nunca mais o para sempre e o nunca mais

contra as palavras infinitas, uma apologia das palavras do zero. também é radical, mas é um bom princípio, para que as palavras dos números pequenos surjam naturalmente, aos poucos, sem desejos de infinito.

agora, nunca digas nunca tem um novo sentido: não é só que é mais provável que venhamos a fazer algo que dissemos um dia que nunca viríamos a fazer;
nunca digas nunca é uma cautela, contra a vertigem do definitivo. (a queda é grande). não digas nunca, porque estás a alimentar projectos de eternidade, para nunca e sempre mais.

para o dicionário das palavras do zero, começo por começo, ainda, e passo. (Porque) começar é a possibilidade, ainda é ainda ser possível, e passo é um de cada vez, como os dias.

Thursday, March 06, 2008

a locomoção

é bom que o único primata homo à face da terra seja sapiens, e tenha boas ideias como as muletas. e que não despreze os outros elementos que não podem mover-se como os demais, ao ter inventado a fisioterapia e as relações de amizade. gosto de ser sapiens. embora às vezes não me sinta sapiens sapiens. agora estou sapiens "lens"
:-)

Tuesday, March 04, 2008

Escultora: Gertrude Alice Meredith


pseudo-antropologia da cantina

Quando vou almoçar sozinha, tenho a tendência de olhar para as pessoas lembrando-me do facto de que pertencemos todos à única espécie humana de primatas. Como tal, partilhamos muitas coisas com muitos outros primatas, e diferimos do chimpanzé e do gorila em pequenos (alguns dizem que são grandes) pormenores genéticos. E, como tal, há uma infinidade de gestos que não são senão de tentativas de cativar, de manter a atenção dos insterlucotores, distracções ilustradas com pequenos gestos comuns, indiferença, satisfação, medo, insegurança, desconfiança. e depois há os apaziguamentos (atitudes agonísticas) que fazem manter tantas relações, necessárias para tantas coisas.

Mas aprofundemos a imagem de nós como só mais um primata (esqueçamos a parte homo, façamos de conta que somos qualquer coisa sapiens). Todos as invenções, desde a mesa da cantina com uma grade em baixo para pôr mochilas (que ninguém repara) à verbalização da necessidade de reposição do azeite nas linhas de tabuleiros, são adaptações, nada mais. Tudo para viver um pouco melhor (apesar dos enganos) e todos a viverem uma vida de uma espécie que um dia desaparecerá como já desapareceram tantos primatas (e só sobrou um da espécie homo, fazendo acreditar que somos o último). É impossível abarcar esta perspectiva sem nos afastarmos de tudo o que parte da consciência, ou do pensamento. Mas é possível imaginar, apesar da consciência de cada um, que estamos de fora disto a olhar para uma espécie em vias de extinção. É difícil imaginar, tendo em conta o efectivo real desta espécie. Somos muitos. Mas se andarmos para a frente um bocadinho, só um bocadinho - pode ser 10 mil anos, ou quem sabe nem mil - e se fingirmos que somos doutra espécie, a olhar para esta, é esquisito:

lá está o homem a pavonear-se para a mulher e vice-versa. lá está a mulher a tentar manter uma amizade com um elemento do mesmo género. lá está a criança a chamar a atenção dos pais. lá estão aqueles machos e aquelas fêmeas a disputarem lugares de destaque nos seus diferentes grupos. lá está aquele casal a mostrar que é um casal. lá está alguém, a afastar-se sem coacção de um grupo que já não o vê como alguém do grupo. ou coagido. lá estão aqueles a mostrar a outros o que fazem e como fazem, e os outros que os copiam. lá está, tanta coisa que pode ser só isso, uma função biológica ilustrada de cultura (em dinâmica permanente, em dinâmica permanente, em dinâmica permanente)

Monday, March 03, 2008

Os barulhinhos da cafeteira italiana

Estava a tomar o pequeno-almoço quando a minha máquina de café começa a fazer um som, sozinha, já depois de verter o café na chávena. Tipo a pingar. Desmanchei as três partes, tirei as borras do café ainda a ferver para o lixo, despejei a água que ficara no reservatório (em excesso, porque tem andado a funcionar mal), e deixei-a a pousar no lava-louças, desmembrada. E não é que, voltando a sentar-me e a tentar ler o pouco que conseguira ainda do jornal, a máquina volta a fazer o som? "A minha máquina de café não está boa da cabela", disse, alto, felizmente sem ninguém para ouvir. Fui outra vez ao lava-louças, separei mais as partes da máquina. Era óbvio agora que o som vinha daquela parte da máquina onde se põe o café, tornando óbvio também que a parte que não estava a funcionar bem, e que por isso só faz metade do café que é suposto fazer. Tentei, então, enquadrar este acontecimento (em silêncio, pelo sim, pelo não):

(1) a máquina de café italiana do IKEA faz parte do sindicato das máquinas de café e ficou chateada por eu andar a dizer mal da Nespresso, uma sua companheira.
(2) ou então, se bem me lembro a máquina deixou de funcionar quando se acabou o café do Comércio Justo e fui comprar café capitalista. A minha máquina é solidária!

Quando a máquina deixou de funcionar bem, troquei-lhe a borracha, que o IKEA fornece em duplicado. Fiz um "circuito" só com água (sem café) e funcionou bem. Mas com o café, não faz mais do que metade. Tentei desentupir o que poderia ser entupível (diz-se?), confirmei que saía água de todos os buraquinhos da parte do reservatório que parece um chuveiro, voltei a fazer "circuitos" só com água - impecavelzinha, como diria a minha ex-sogra - e o café continuou a subir só pela metade. Agora, depois dos barulhinhos e da personificação definitiva da máquina de café*, agora já percebi - a máquina percebe-me. Ela sabe que eu só devo beber meia cafeteira, que o café em excesso faz-me mal.

E agora já percebi porque se guardam as cafeteiras italianas nos armários quando deixam de funcionar. Mas se a guardar, desculpa lá cafeteira, mas não vou comprar uma Nespresso, embora prometa que não volto a dizer mal. Eu gosto de moer o café e do som do "circuito" do café.

*seguindo a sugestão de personificação de uma caixa esburacada deixada no lixo, por Gonçalo M. Tavares, última Visão (28.02.2008)